terça-feira, 19 de abril de 2011

Ensaio Para a Simplicidade


         

                  "Depois de algumas horas chegaram a um local onde havia trinta ou quarenta moinhos de vento.
                                       Dom Quixote reteve o seu Rocinante e falou a Sancho Pança, com um sorriso sublime:
                                                              - Vês a minha sorte? É a riqueza que vem ao nosso encontro. E a glória."
                                                                                                                                              (Dom Quixote- Miguel de Cervantes)


 
Um instante de cada vez. Ainda assim...
Não aprendi a contar o tempo de nossas horas.
Poderia, duas vidas, esperar por nós?
Talvez. Se as demoras não levassem os dias
nos escuros em que roubas o ar de meus pulmões.
Dei memórias antigas em troca de uma profecia:
Apostar o futuro para se perder nas revelações.
(Qual a mágica de uma casa vazia?
- Móveis e talheres sem voz.)
No entanto, isso tudo salva meu coração.
Cada silêncio-menino é um carinho escondido,
- brincando de mocinho e bandido -
nos bosques e labirintos de uma grande ficção.
Se a fantasia transforma em amor o moinho
Meu destino é beijá-lo com lábios de vento.
Dos mil e um segundos, é este o segredo.



Yann Tiersen-Le Moulin
 Arte: Jéssica Castro 

13 comentários:

  1. quando minha casa fica muito vazia - e isso acontece pelo menos duas ou três vezes por dia - tramo com meus lápis, canetas e teclas assassinatos em série para esvaziar também a vida lá fora.

    a partir de agora, incluirei os móveis e talheres na quadrilha.

    abraço

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  2. [delicada simplicidade, tecida na palavra, inquieta, serena brisa]

    um imenso abraço,

    Leonardo B.

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  3. Ensaiar pra quê, menina? Sai logo sentando sua borduna de crochê e polinizando todas as cabeças complicadas deste mundo. (A minha, não carece, que sou um dodecaedro crônico, sem cura nem fé pra saber o que fazer com tanta aresta e ângulo! Na única vez que tentei trocar minhas memórias antigas por uma profecia, o profeta achou pouco e mandou-me apostar no passado. Apostei, mas não pude perder-me nem nas revelações esquecidas, porque só achei uns negativos embolorados, copiosamente incopiáveis.


    Beijos

    P.S.: Vê se volta a postar com freqüência, viu? A carência de pólen causa, está provado, anemia anímica.

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  4. Existe algo que se repete na poesia que habita em ti, Srta. Raposinha. É como um cicio, um segredar paulatino [que se descortina em cada verso] e que oferta uma pluralidade imagética tão intensa e tão imensa [cada verso meio que ocultando um poema inteiro, mais que um tema, mas a idéia toda]... neste cá vejo-a descrever solidão, ausência e espera cada uma com seu toque, sua nuance própria... as referências à epígrafe de Cervantes guardam doçura similar... sinto neste, como em todos mais, um vulcão em teu peito que se oferta à conta-gotas, uma por vez... um conselho?! É preciso deitar palavras no papel de quando em quando, que se guardá-las, explodem dentro da gente... Bjo grande, menina...

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  5. Flor que desfolha ao vento, que mesmo sem tempo de voar, vai deixando de maneira esparsa cada ponta de pétala que o sentir arrasta de ti...cada ponta de cada pétala possui um ímã q se arrasta p a pequenina corola que te faz, e ressurges mais cheia de graça porque mais cheias de sentires, e aqui só retornas porque não cabes mais em ti... bjs...

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  6. Fiz magia com todas as cores que tinha
    Fiz aparecer na tela um tocador
    Pintei-lhe um violoncelo a preceito
    Mas ele não sabia tocar uma música de amor…

    O amor nunca acontece sem amor
    Esta coisa do amor será fantasia?
    Será uma noite vestida de nostalgia?
    Será planta envergonhada que floresce ao fim do dia?

    Seja o que for, tem o nome de amor
    Acho bem que seja assim
    Há quem diga que se enraíza para sempre
    E floresce como planta de alecrim


    Terno beijo

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  7. difícil é chegar a essa simplicidade viu...

    beijos

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  8. Envolvente demais! Muito bom mesmo.

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  9. 'moinho de versos
    movido a vento
    em noites de boemia

    vai vir o dia
    quando tudo que eu diga
    seja poesia' Leminski

    Vai vir um dia dois mil e um segundos!! Lindo demais!!lindo!

    Beijos!

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  10. Tia Adriana o seu blog é lindo!
    Eu também tenho um blog!
    Me visite!

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  11. As suas poesias são lindas mesmo , agora Duda adora poesias!

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