terça-feira, 16 de agosto de 2011

Estratégia de guerra


"... Mais vasto é meu coração."
(Drummond)

(Para Carlos Drummond de Andrade)

Em que momento do dia não resisto às minhas setenta e sete outras vidas?
Qual será a hora vadia, limbo de regras e juízo, em que me desmantelo?
Quando é que a burocrática certeza deste mundo desanda em fantasias?
Que corpo se subtrai ou multiplica quando piso no beco do que renego?
Tenho vícios que são como cigarras cantando eternos convites para a folia.
(Minha poesia = substantivo entorpecido com almas de deuses e servos)
E eu, teimoso como sou, me orgulho em perseverar nesta rotina de formiga.
Para cá de meus óculos, forjo esta armadura em que minto meu protesto.
Para lá da realidade mesquinha, misturo meu sangue no papel e na tinta.


(Place to be- Nick Drake)
(Fotografia: Saul Estevam)

8 comentários:

  1. Olha, semana passada eu não podia passar por uma livraria que queria comprar um livro do Drummond. Ele tem isso de "burocrática rotina", e eu compreendi isso legal quando li um livro sobre ele, Dossiê Drummond; é muito legal.

    Já pensou se na escola tivesse tempo para poesia?

    um beijo

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  2. Um belo poema! Tem algo de uma cumplicidade poética.

    Um dia pensei que não era justo que o Drummond transformado em estátua fosse condenado a dar para sempre as costas ao mar. Mas depois ponderei que aquele vasto coração tinha mesmo de estar voltado para o ser passante, o Homem.Afinal, este é que inventa a paisagem.

    Beijo.

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  3. As quatro interrogações
    encontram muito mais respostas
    no poema.

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  4. Adrina,
    Papel e tinta nessa guerra de batalhas invencidas, oh! calendário de dias vindouros...
    São de ouro as horas de vir-nos e virmo-nos aqui...

    Abraço vasto,
    Ramúcio Pedro Ramúcio.

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  5. Waw! Saudades desse molejo suave com que as palavras dançam na poesia que sai de ti, Srta. Raposinha... musical, leve, belo, mágico... belíssimo!

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  6. Na arma-dura nem sempre crueldade da violência e/ou do prazer. Na arma-dura algumas vezes uma tristeza,uma fragilidade,um medo de olhar/estar n(o) mundo além das grades que protegem os olhos. Na arma-dura as vezes a defesa contra o autoritarismo que chega em voz suave,mansa,aveludada. Na arma-dura um óculos roubado tb já roubou o sossego de muitas mentes com a força de sua espada chamada caneta... Na arma-dura,lágrimas enferrujam por dentro o aço tão forte por fora... A dor de ser criatura,leva às vezes à arma-dura...

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  7. para quê procurar as respostas se as perguntas são já suficientemente inquietantes?
    ah, nick drake e um dos melhores álbuns do século... este "place to be" é a genialidade na melodia como na letra.
    beijo grande com saudades tuas, querida amiga em tons de mel!

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  8. Desde a primeira vez que li fiquei refém desses versos.

    Maravilhoso, Dri!

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