quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tempo Derramado...


“Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acredito, sim, por educação. Mas não creio. Minhas lembranças são aves. A haver inundação é de céu, repleção de nuvem. Vos guio por essa nuvem, minha lembrança.”
(Inundação - Mia Couto)


Há um motim de tempo no final do corredor.
O observo daqui, à deriva...
No quarto-mundo...
Nau de lençóis que carrega meu cansaço
No intervalo dos soluços, encontro o Porto
E abafo no travesseiro esse claro que me invade
Teimoso em devassar o exílio onde aguardo...
Nada (con.tudo) é suave na espera:
É vermelho o tempo enferrujado com agulhas no peito
É forte esse cheiro de vazio em meu corpo derramado
A lembrança sopra avessos de remanso em minha boca
Doído é o lamento do esquecimento derrotado...
Naufraga, assim, o outro tempo coberto de saudade.
A tarefa inglória de gastar as horas, vivo atrás da porta
Espaço da tua ausência presente em minhas vontades.

Ao som de...


(Paco de Lucia - Entre dos aguas)

(Imagem: Capa do livro O outro pé da Sereia - Mia Couto)

43 comentários:

  1. PRIMEIRAS IMPRESSÕES:

    Com.tudo nada é... o tempo não existe nem o compreende a mente sã, menos ainda a insana...

    [...]


    Nada sendo, passa inda mais lento com a ausência, sua irmã...

    "Espaço da tua ausência presente em minhas vontades" tocou fundo... mais poético impossível... ;)

    Bjs, nina!

    FELIZ ANIVERSÁRIO!!! ;)

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  2. Tantas vezes já falei do tempo, mas de fato ele nos consome de reflexões... Ele nos invade de nós mesmos para se tornar uma metáfora de nossas buscas...
    O tempo: essa medida invisível de tudo.
    Gastá-lo. Sentí-lo. Vivê-lo!


    Longos tempos pra você amiga! Aproveite até a última gota.

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  3. Também já criei ao som dele. Adoro Paco!

    Bom te ler, flor.

    Beijo.

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  4. [não há barco abandonado no vento que não encontre na praia, no fundo mar, num tosco pedaço de céu, o seu porto... que importa o cais?]

    um imenso abraço,

    Leonardo B.

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  5. Olá!

    Belíssimo texto! Adorei!

    Venho convidar-te a conhecer o meu espaço novo. Ficaria muito feliz com a sua presença por lá também.

    Abraços!

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  6. Caprichou hein...

    Mia Couto e Paco juntos, que beleza!!!

    ótimo final de semana!

    um beijo

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  7. O tempo derramado nunca é em vão.
    Aprendemos sempre com Ele.
    Ótimo escrito, Pólen.
    Adorei!
    Forte abraço.

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  8. è sempre o tempo que esta a nosso favor ou contra nos.

    bjs
    Insana

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  9. hum... adoro Paco de Lucia. Bela combinação texto/imagem/som. Abraços.

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  10. há tempos, escrevi um texto que terminava mais ou menos assim:
    "parem o tempo. Quero sair!"
    nunca ninguém me respondeu a este grito... continuo à espera...
    um beijinho!

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  11. Muito bom! Gostei em especial de um pequeno detalhe: "...ausência presente..." (último verso). É o que chamo de contradições coerentes.

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  12. Chico, querido, obrigada pelas felicitações!

    É tanta coisa... Tão denso esse tempo que se derrama que, por vezes, nos sentimos atolados no cimento...

    Beijos

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  13. Josse, minha amiga tão querida... Que encanto tê-la por aqui.

    Tempo... invisível, mas não menos palpável e tampouco controlável...

    Beijinho e seja bem-vinda!!!

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  14. No final do corredor do casarão dos meus avós
    eu sempre avistava uma cadeira de balanço vazia.

    Você me lembrou.

    Beijo carinhoso.

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  15. "...E abafo no travesseiro esse claro que me invade
    Teimoso em devassar o exílio onde aguardo..."
    É assim que me sinto em determinadas manhãs em que, na minha nau de lencóis, luto com esse cheiro de vazio em meu corpo derramado.
    Sem palavras... mais fácil falar através das tuas...
    Beijokas.
    Seguindo...

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  16. O cais é só a saudade, Leonardo... Tudo mais são as possibilidades. Mas o que fazer quando a saudade é maior que todo o resto?

    Beijos e cheiros, querido.

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  17. Olá, Colecionadora de silêncios...
    Gosto muito deles: Dos silêncios. Estou indo lá no teu espaço pra ler o que dizes e o que calas.
    Obrigada pela presença!!!

    beijinhos...

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  18. Se a Mina gostou é porque a combinação foi boa mesmo!!!

    Valeu, querido!!!

    Beijo grande!

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  19. E quando o tempo se derrama, Paulo Jorge, o aprendizado é um pouco mais "difícil".

    Tua presença aqui é sempre festejada, querido.

    Sempre que vou me encontrar com a Noiva do Sol lembro de ti.

    beijos...

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  20. Isso mesmo, querida Insana... Ele pode ser grades ou abraços...

    beijinhos, linda!!!

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  21. Também adoro Paco, Maria!!! Respirar com a música dele torna o ar mais envolvente, não achas?

    Beijos...

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  22. É deveras difícil!!! Mas quem sabe um dia, Jorginho...

    Beijinhos

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  23. "Contradições coerentes"... Gostei da expressão, Caju!

    A ausência quando é tanta... Mancha tudo quanto é lugar, não achas?

    Beijos...

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  24. Essas imagens guardam tão mais que lembranças, Domingos querido...

    Minha meu coração é povoado delas.

    Beijos e cheiros...

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  25. Oi, Lua...
    Nome lindo de ver e chamar!!!
    Seja bem vinda neste meu pedaço de céu.

    Sei bem como são essas manhãs... O bom é quando podemos fechar os olhos e imaginar que a noite ainda não terminou .

    Beijos...

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  26. Lara... Minha flor do cerrado...

    Obrigada pelo carinho!!!

    Beijinhos...

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  27. Nau de lençóis que carrega meu cansaço
    No intervalo dos soluços, encontro o Porto
    E abafo no travesseiro esse claro que me invade
    Teimoso em devassar o exílio onde aguardo...

    ...e ao som de Paco de Lucia...Maravilha, tudo!
    beijos,

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  28. Em qualquer tempo é prazeiroso ler-te.

    Beijo, pólen de flor.

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  29. Moça do Pólen,
    Estar-me aqui é sempre especial, mas hoje inundei-me alto e fundo...
    Também sou fã de Paco, feito você e a Lara do cerrado...

    Abraço úmido,
    Pedro Ramúcio.

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  30. "Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças"
    Charles Darwin


    Bjs
    Insana

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  31. q bacana o seu blog, coleguinha.. virarei seguidor...

    besos.

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  32. Presente na ausência empurro a porta nenhuma que não abre nem fecha nada.
    Cadinho RoCo

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  33. Cris...
    Prazer é o tempo em que te leio, minha tão querida!!!!

    Beijos doces e cheios de pólen...

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  34. Tania...
    Não me deixe com tanta saudade, querida.
    O Roxo-Violeta é caminho certo todo o tempo.

    Beijinhos...

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  35. Pedro...

    Tua presença aqui é que me inunda de alegria! Sou tua fã!!!
    Venha sempre que puder, certo?!

    Um beijo grande da Adriana, a moça do pólen!

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  36. Insana, querida...

    Haja folêgo e coração pra se adaptar a algumas mudanças, não achas?

    beijinhos...

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  37. Obrigada, Paulo Vítor!!!

    Seja bem vindo!

    Beijos...

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  38. Essa "porta" é só um limite pra atravessarmos ou não, não achas, Cadinho???

    Apareça mais vezes, o espaço é nosso e a porta sempre está aberta!

    Beijo

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  39. ainda acerca do tempo e demais considerações (e em réplica ao teu comentário belíssimo lá no viagens:
    "não consigo deixar de pensar no que dizes: "por que será que as coisas têm apenas o tempo certo da nossa urgência?". borges estava certo, afinal: o tempo somos nós, com esta dupla fatalidade: quando estamos bem, voa; quando não nos serve, arrasta as suas pregas daninhas sobre as searas onde escondemos os nossos desejos, impondo-se ao arbítrio que julgamos deixar de nos pertencer. vã ilusão; sempre foi nosso, sempre nos pertenceu, mas porque o fruto nem sempre sabe esconder-se das sombras, cremos que deixe de nos caber no bolso das calças.
    como compreendo a única verdade de ulisses... procurou domar o tempo viajando sobre a sua única certeza. não chegar é o tempo certo para eternizarmos a nossa busca. tal como penélope, afinal, ainda que viajando dentro de casa, através do novelo do sonho. e assim se viaja tendo a própria ida como horizonte derradeiro."
    um beijinho com carinho imenso!

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  40. Jorginho,
    Tua réplica é um sopro suave a movimentar meus pensamentos em direção ao horizonte que ainda é tão incerto pra mim. Borges e tu, sobretudo, têm razão. O tempo " sempre foi nosso, sempre nos pertenceu". Mas o que fazer se ele é tão alheio e indomável na maioria das vezes?
    Por isso,fico aqui, esperando...

    Mais beijinhos e cheiros pra ti!!!

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  41. Viajeiro das perdidas madrugadas
    Navegante de barcos de papel
    Preso aos brandais desta Nau da esperança
    Afugento a fome com pão e mel

    Mato a sede na saliva das tuas palavras
    Tempero o sentir com o sal das tuas lágrimas
    Recolho uma flor que eclodiu do basalto
    Gerado num vulcão de sete chamas


    Doce beijo

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  42. Uau!!!
    Estou envolta nas "brumas", Profeta...

    Seja muito bem vindo!

    Beijo grande.

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