Quase uma desculpa

"Nada pesa tanto como o afecto alheio"
(Pessoa= Bernardo Soares)

A vida, para ele, mais parece um fardo:
Incômodo e pesado.
Tudo se lhe apresenta irritantemente próximo
Que a afetação pelas coisas suas e alheias
Arranha-lhe a alma, até mesmo os nervos.
Quando pergunto, minora, disfarça, enleia...
Entrega-se aos versos, não pela poesia,
Finge habitar nos vãos daquilo que fabrica
É pra existir além da crueza de todo dia.
Há muito, por isso, deixou de ser uno...
Dividiu-se em dois, depois quatro e,
Sendo isso pouco, passou a ser muitos.
Fez-se Álvaro, Alberto, Ricardo...
- Gosto de todos!
Talvez um pouco mais de Bernardo.
Quando Fernando, nunca é lá muito amigável.
São tantos Pessoas desassossegados...
Que me preocupo se com essa indiferença
Tão apegada aos sentimentos do mundo
Ele porventura gosta do meu amor declarado
Quando ao vê-lo, nesses flagras quase diários,
Meus olhos esquecem de permanecer mudos.

(Arte: João Beja)