sexta-feira, 27 de julho de 2012

Dos segredos do amor e outras saudades







"Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo.

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento."

(Sophia de Mello Breyner Andresen)


Diria que é pretérito mais que perfeito.
Daqueles que se conjugam até o fim dos dias.
Não pela ação que mudou o rumo dos ventos,
mas pela ficção que movimentou o moinho.
Uma brisa ainda sopra todas as vezes
que me é permitido ler o amor em volta.
Essa impressão se abriga na saliva.
Naquele gosto ansioso dos meus encontros com tua escrita.
Era alquimia disfarçada de notícias naquelas páginas.
Toda veste desaparecia.
Nenhum espaço resistia.
Tu estavas ali e, desde a primeira frase,
entendi que o mundo criou as palavras
só para que pudéssemos existir.
E, assim, plantei em meu coração um mito amoroso
para que outras realidades pudessem florir.
Já nem sei com que nostalgias construí meu castelo de cartas.
Mas meu coração ainda é um reino de irresistíveis saudades
com heróis que não empunham caneta ou espada.


(Alpha- Sometime Later)
(Imagem tirada da web- Às de Copas)



2 comentários:

  1. que seus heróis empunhem margaridas, drica.
    que empunhem sambas de cartola e poemas de sophia de Mello Breyner Andresen.
    que empunhem nuvens de algodão doce e o sol ao enterdecer sobre a sua ilha.


    eu gosto muito da sua poesia, viu?
    sempre gostei.

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  2. Nunca pensei no ás de copas como amor...

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